[…] Sakugawa no kon é dito ter sido criado e transmitido por Sakugawa Kanga, também conhecido como “Tōde” Sakugawa (ou “Tōdī” Sakugawa).
Existem muitas histórias sobre a pessoa Kanga, que foi para a China para estudar, mais tarde se tornou um professor na “Academia Nacional” de Ryūkyū (fundada em 1798), que lhe foi concedido o nome de local “Sakugawa” como uma recompensa por serviços distintos e consequentemente mudou seu sobrenome de Teruya para Sakugawa e outros.
Sakugawa Kanga é reverenciado como um dos fundadores do Karate (Tōde) de Okinawa. No entanto, a história oral contada sobre ele é seriamente questionada pelos principais historiadores de Ryūkyū.
[…] Desde que um artigo sobre Sakugawa Kanga […] foi publicado no Okinawa Times […]. O Sr. Dana Masayuki, um especialista em estudos de Okinawa, analisou sua história pessoal de vários ângulos […].
“[…] É incorreto que (Sakugawa Kanga) tenha estudado no exterior. São claramente conhecidos quais Kanshō (estudantes estrangeiros patrocinados pelo governo) […] foram enviados para a China e em que ano, e Sakugawa Kanga não está entre eles. Como a bordo dos Shinkōsen (navios de comércio de tributo enviados de Ryūkyūa para a China), os oficiais superiores, como o enviado-chefe, poderiam ter doze ajudantes, e os funcionários intermediários como o Saifu poderiam ter quatro auxiliares, houve muitos casos de estudantes acadêmicos […] como colaboradores (Okinawa Times: Okinawa Karate History, Parte 11. Artigo de 3 de setembro de 2017). “
[…] Portanto, é impossível que (Sakugawa Kanga) tenha estudado no exterior nesta condição. No entanto, diz-se que existe a possibilidade dele ter servido como ajudante de uma missão em homenagem aos Qīng.
“Embora os assistentes fossem membros da missão […], suas possíveis atividades eram naturalmente restritas. (Além disso), era uma estada curta (na China), cerca de meio ano. O tempo limite máximo (para a permanência) era de um ano e meio. Portanto, era impossível para os ajudantes terem permanecido em Fúzhōu por muitos anos para treinar Karate. (Okinawa Times: Okinawa Karate History, Parte 11. Artigo de 3 de setembro de 2017) “
Em suma, mesmo que Sakugawa Kanga tenha ido para a China como ajudante de um navio de tributo, não poderia ter praticado artes marciais chinesas por vários anos, sua experiência teria sido de meio a um ano e meio no máximo.
Então, todas as histórias pessoais escritas sobre Sakugawa Kanga em vários livros de Karate até agora – de ter estudado em Běijīng (Pequim) e ter estudado na Guózǐjiàn (Academia Nacional da China), ele teria sido o primeiro nativo de Ryūkyū a ser autorizado a entrar o Shànpūyíng (centro de treinamento de artes marciais) dentro do castelo de Pequim, lá aprendendo o Quán-fǎ (Kenpō) da Escola do Norte, e depois de voltar para casa se tornar um professor na Academia Nacional do governo real de Ryūkyū – são ficção.
A propósito, no artigo citado acima também foi escrito que os professores da Academia Nacional (de Ryūkyū) eram apenas Shizoku de Kumemura, e que os Shizoku de Shuri (Sakugawa nasceu em Shuri) não poderiam se tornar professores desta entidade.
Analisando da perspectiva dos estudos acadêmicos de Okinawa, significa que a maior parte da história pessoal de Sakugawa Kanga que foi contada até agora é fictícia.
Pelas razões acima, o mesmo se aplica a outras personalidades do Karate […] que dizem ter praticado artes marciais chinesas durante a era do Reino de Ryūkyū. De acordo com o folclore oral, teriam treinado artes marciais na China por vários anos, às vezes por décadas, […] ou ter dominado as “técnicas secretas” da arte. Porém, tendo em mente o que foi acima mencionado, todas essas anedotas tornam-se exageros ou interpretações errôneas dos fatos.
[…] Claro, é possível que a história tenha sido naturalmente exagerada, enquanto o folclore oral foi transmitido de geração em geração. Portanto, mesmo que a história […] não seja verdadeira, não foi necessariamente criada de má-fé, mas pode ter mudado naturalmente pelo folclore oral […] (tal qual a brincadeira “telefone sem fio”).
Assim como é necessário considerar o folclore oral como sendo folclore oral, penso que seja necessária uma atitude semelhante ao ponto de vista acima descrito. Ao estudar a história do Karate academicamente a partir de agora, os pesquisadores […], até certo ponto, também adquirirão conhecimento sobre a história do Reino Ryūkyū.
(Voltando ao Kobudō…)
Existem muitos tipos de Sakugawa no kon.
Por exemplo, na linhagem de Kobudō de Taira Shinken há uma versão “shō” e uma versão “dai” do Sakugawa no kon. Essas versões vieram via Chinen Masanrā (Yamane-ryū) → Yabiku Mōden → Taira Shinken.
O aluno de Taira Shinken, Motokatsu Inoue, também mantém um Sakugawa no kon “chū”, que derivou de uma versão mais antiga.
A partir da composição de Sakugawa no kon na linhagem Matayoshi de Kobudō pode ser visto que se originou no mesmo modelo que a versão “shō” da linhagem de Kobudō de Taira Shinken.
O Ryūkyū Kobudō Shinbukan de Akamine Hiroshi tem uma versão extracurricular de Sakugawa no kon que foi transmitida na área de Kakazu de Tomigusuku Madanbashi e é, portanto, chamada de Kakazu bōjutsu […]. Que foi herdado na década de 1920 pelos especialistas em Yamane-ryū, Chinen Masanrā e Ōshiro Chōjo.
Sakugawa no kon, conforme herdado em Yamane-ryū Bōjutsu, tem semelhanças e diferenças com as versões acima […].
Em vários povoados que praticam bōjutsu (mura-bō), também, vários Sakugawa no kon foram transmitidos. Na aldeia Yaese-chō Tomoyose, existem três tipos chamados Sakugawa no kon “1-dan”, “2-dan” e “3-dan”.
Entre as características técnicas do Sakugawa no kon shō está o salto para trás (tobu-sagaru) e o “arremesso enrolando” (maki-nage). Este Sakugawa no kon é uma excelente versão de treinamento […].
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Referências:
QUAST, Andreas. Sakugawa no Kon Shō (Série Bojutsu Kata). Disponível em: <https://ryukyu-bugei.com/?p=4221>. Acesso: em 24 de abril de 2015.
QUAST, Andreas. Tōdī Sakugawa. Disponível em: <https://ameblo.jp/motoburyu/entry-12315114051.html>. Acesso: em 29 de setembro de 2017.
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