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O Kobudō e suas armas tem uma origem plural

 […] Kobudō (古武道) é também chamado de Okinawa Kobudō: o termo tem uma substância filosófica e espiritual […]. O Dō (道) representa uma abordagem que se pretende […] a melhoria do ser humano através da arte marcial. 

Kobujutsu (古武術) também conhecido como Ryūkyū Kobujutsu é a terminologia usada para designar as antigas técnicas de luta de Ryūkyū. O termo refere-se ao lado puramente prático das técnicas de luta […]. 

Seja sob a denominação Te (手), Tōde (唐手) ou Karate (空手); os antigos mestres não dissociavam as técnicas do Karate e do Kobudō (Kobujutsu). Eles consideravam ambas as artes como partes integrantes de um todo […]. 

[…] Quando falamos sobre Kobudō, a engenhosidade dos camponeses (Nōmin, 農民) e pescadores (Gyomin, 漁民) vem à mente porque todos os livros ou sites dedicados ao Karate e Kobudō; passa-nos a imagem daquele povo humilde que, por falta de possuir objetos ou armas […], recorre às ferramentas do seu quotidiano transformando-as em armas de defesa. A realidade é muito menos clara porque ao longo dos séculos; os nobres (Aji, 按司) […] parecem ter assumido um lugar significativo na concepção, elaboração e estruturação do Kobudō […].

A codificação das técnicas do Kobudō através dos kata (型) é, segundo os estudos das fontes que chegaram até nós, um feito dos aristocratas. Se os camponeses e pescadores desenvolveram técnicas marciais; o último parece ter sido finalmente recuperado pelos nobres […]. 

[…] No final do século XVII, a sociedade de Ryūkyū nos oferece um exemplo histórico e raramente visto de mudança de classe. […] Sob pressão demográfica, alguns nobres voltaram, por opção […] aos campos […]. 

[…] Em 1654, havia, nas aglomerações de Shuri (首里), Naha (那覇), Kume (久米村) e Tomari (村) unidas […] 3.594 nobres para 13.689 habitantes; 138 anos depois (1792) havia 14.382 nobres para 32.823 habitantes. Nesse período, passamos de uma proporção de 26% de nobres para 43% […].[1]

A pressão demográfica particularmente concernente a essa classe era tão grande que uma alta proporção de aristocratas achava difícil não apenas manter a posição, mas simplesmente subsistir. Aqueles que tinham habilidades e conexões podiam esperar encontrar um emprego como funcionário na corte do reino, mas os cargos eram extremamente difíceis de obter; apenas uma elite intelectual tinha acesso a ele. Para a grande maioria, as saídas nobiliárias eram quase inexistentes. No final do século XVII e início do século XVIII, assistimos, portanto, à propagação de um fenômeno surpreendente; os nobres empobrecidos começaram a abandonar seu título de nobreza e voltar para o campo (士が農村に子 住). 

Essas primeiras mudanças foram realizadas sem a aprovação do governo real (琉球王府), o único que poderia conceder uma autorização desta ordem. O decreto oficial que permitia a mudança de status somente foi promulgado em 1725, devido ao fato de exercer profissões não nobres como as de pescador, agricultor, comerciante, artesão, etc, foi sancionada pela supressão da identidade nobre e das vantagens que estavam associadas a ela. Esses ex-nobres foram apelidados de “saídos de Shuri” → Shuri-kudari (首里下り) ou mesmo de “rebaixados ao campo” → Inaka-kudari (田舎下り).” 

Esta reconversão degradante e dolorosa permitiu-lhes pelo menos comer decentemente. Esses aristocratas haviam perdido o título de nobreza, mas conservavam um sentimento de superioridade que havia muito era exercido sobre os camponeses dos arredores. Este posicionamento os impediu que realmente se integrem na massa camponesa por várias gerações. O fato de seus filhos e netos sempre terem tido a possibilidade de poder retomar sua posição nobiliária também teve a ver com esse estado de espírito afetado. Esses ex-nobres, sem dúvida, tiveram acesso à educação marcial devido à sua posição social inicial. 

[…] Do contato com as ferramentas de trabalho dos camponeses, os ex-nobres que se tornaram “simples homens do campo”, criaram técnicas marciais usando objetos agrícolas. O ferro sempre foi um metal precioso e por isso caro, basta observar as ferramentas agrícolas da época para perceber que a maior parte dos objetos é de madeira. Alguns pedaços de ferro adicionados na madeira retardavam o desgaste do utensílio, mas o ferro usado era em uma proporção ínfima e quando não se podia fazer de outra forma. Gradualmente ao longo dos séculos seguintes, surgiram novas armas confeccionadas em ferro porque este metal se tornou mais acessível durante o século XVIII. Assim, surgiram novas “armas”, desconhecidas do mundo agrário. Alguns exemplos são: o Sai [釵], o Tinbe [ティンベー] e o Rōchin [ローチン], o Tekkō [鉄甲], etc. Esta evolução permitiu-lhes monopolizar a maior parte das armas, codificar seu uso e desenvolver o que hoje é a arte do “Kobudō”. 

Outra forma de transmissão também se tornou possível graças à descendência direta desses ex-nobres, que se tornaram camponeses, mas que conseguiram retomar sua posição aristocrática, segundo a possibilidade que era reconhecida de direito. 

[…] Para se defender, os “camponeses” [田舎百姓], portanto, recorreram às ferramentas de sua vida diária. Ferramentas agrícolas e de pesca que eles tinham à mão. Os homens da aldeia conheciam, desde a infância, as técnicas de bastão [棒術], que empunhavam nas festas da aldeia e nas danças tradicionais, e empregavam habilmente.[2]

O bastão, arma defensiva por excelência, encontrará facilmente o seu lugar no que poderíamos chamar de “armamento dos pobres”. 

Entre as armas dos Kobudō, nenhuma, pelo menos, que eu saiba, está entre as ferramentas ou utensílios de que uma pessoa precisa a bordo de um navio [マーラン 船]. O Ueku [ウェーク] (櫂)é um remo utilizado para movimentar os barcos pesqueiros conhecidos como “Sabani” [サバニ船], barcos familiares das costas do arquipélago […].

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Referências:

FAURILLON, Christian. Le kobudō une origine plurielle comme ses armes. L’histoire du karaté d’Okinawa et du ryûkyû kobudō. Disponível em: <https://karatehistorique.wordpress.com>. Acesso em: 28 de novembro de 2015. 

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Notas:

[1] Fonte dos números apresentados: Pr 田 名 真 之 – Universidade de Okinawa 沖 縄 国際 大学 総 合 文化 学部 教授 – [蔡 温 と 国土 経 営] 第 4 回 都市 問題 へ の対 処 2006. 

[2] 「う ち な ー ー ぬ も ー い ん ん か い え 、 か ら て ぃ ぬ て ぃ ぬ て ぃ ー ー ぬ い っ ち ょ ん ど ー」(沖 縄 の 舞 は 空手 の 手 と 共通 小 小 小 小.

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